sábado, 3 de julho de 2010

   Sou a quinta filha de um casal de cinco filhos, sendo que ao todo tenho mais de quinze irmãos, pois meu pai teve vários filhos,cinco deles com mamãe, outros em seu primeiro casamento e alguns fora dos laços matrimôniais. Apesar disso posso ser considerada a caçula das mulheres, pelo menos no que diz respeito ao casal Maria e Edson.
    De origem simples não tive muitos mimos, porém nada me faltou, especialmente no quesito acadêmico. Fiz o Ensino Fundamental na escola pública e frequentei o Ensino Médio na escola particular. Tive oportunidade de fazer a primeira série duas vezes. Não porque fui retida, mais especialmente pela presença fiel da minha mãe, que em um dos seus momentos de estudo comigo percebeu que eu não sabia ler. Então tudo mudou, fui retida por pedido especial dela, que alegou ao diretor e a professora da escola que eu não só não sabia ler como simplesmente decorava todo conteúdo. Por não ter tempo disponível diário para os meus estudos ela logo contratou uma professora particular. Esse momento além de marcante conseguiu desenvolver em mim muitas habilidades não só em termos de conhecimentos escolares mais principalmente em termos de vivência diária. Fui assistir aulas num prédio próximo a minha casa, a minha professora particular era mais exigente que a professora da escola. Durante as aulas eu fazia as atividades propostas pelos professores da escola, revisava o conteúdo, fazia simulados, redações e lia muito. Foi nesse momento que descobri que ler é uma viagem fascinante, a medida que aprendia a ler as palavras aprendia a ter uma visão mais detalhada da vida que me cercava.
    Meu ensino fundamental se desenrolou sem atropelos, nunca fui reprovada, nem fiquei em recuperação. Precisei mudar de escola por motivos particulares e alheios aos meus domínios, mas isso não agravou em nada o meu desenvolvimento escolar. A nova escola foi um descortinar de novos valores, a conquista de novos amigos e a descoberta de um novo ambiente de estudo se tornaram momentos marcantes na minha adolescência.
    Ao terminar o Ensino Fundamental alguns dos meus colegas de escola resolveram fazer o científico numa cidade vizinha e meu pai concordou com a minha ida para essa escola, Colégio Diocesano do Crato, pois um dos meus irmãos mais velhos, Osvaldo, já estudava lá desde o ano anterior. Dona de uma metodologia inovadora, muito exigente e rígido, o colégio me chamou bastante atenção. Lá tive a oportunidade de ampliar meu conhecimento acerca dos estudos adquiridos no Ensino Fundamental. Conheci matérias diferentes e importantes da grade curricular do Ensino Médio e desenvolvi melhor meu gosto pela leitura. Conheci uma biblioteca fascinante a Biblioteca da Urca, mesmo sem ser aluna da faculdade eu lia vários artigos quando tinha aula reduzida por conta das provas bimestrais e ainda pedia para que alguns amigos pedissem empréstimos para mim em nome deles. Terminei o Ensino Médio apta a fazer vestibular, mas como todo adolescente tem sede de aventuras, me atirei de braços abertos numa nova empreitada, fui morar bem  distante de meus pais e irmãos, precisamente na cidade de Marabá, no Sul do Pará. Fui convidada a ministrar aulas para crianças carentes de uma fazenda de meu tio paterno. O período que morei lá, foi dedicado para lecionar a classes multisseriadas e a ajudar os moradores da fazenda com o conhecimento que adquiri ao longo da minha vida acadêmica e pessoal, vivi experiências maravilhosas, ensinei e aprendi bastante.
    Depois de dois anos e meio voltei a morar em Jardim, fiz vestibular e ingressei no curso de Letras da Urca. Os meus horizontes se ampliaram muito mais, aprofundei meus estudos nas áreas de Linguística, Latim, Literatura e muitas outras disciplinas da grade curricular desse curso. A cada assunto novo mais gostava da minha escolha.Descobri que tenho vocação para professor durante os estágios de observação e prática educacional.
    Pela mesma universidade que fiz a faculdade iniciei minha especialização, escolhi a área de Língua Portuguesa e Arte-educação para aprofundar meus estudos, em parte por serem as disciplinas mais afins dentro do curso de Letras e por achar que o ramo da linguagem é mais exigente e satisfatório no sentido de trabalhar com cuidado a linguagem como sistema de interação comunicativa. Durante a especialização participei de momentos que engrandeceram e enriqueceram a minha caminhada como profissional da educação.
    Leciono atualmente na EEIEF Santo Antonio no 8º e 9º Ano e na EEM Dr. Romão Sampaio nas turmas de 1º e 2º Científico, em caráter de professor temporário. Dedico a maior parte do meu tempo em atividades escolares, amo minha profissão e lamento a falta de reconhecimento dessa que é uma das profissões mais antigas do mundo. 
    É inegável a grandeza de educação na vida de uma pessoa e de toda comunidade. Faço minhas as doces e sábias palavras de Rubens Alves:

" Educar é mostrar a vida
A quem ainda não a viu.
O educador diz: "Veja!".
E, ao falar, aponta
O aluno olha na direção apontada
Vê o que nunca viu.
Seu mundo
Se expande.
Ele fica mais rico interiormente...
E ficando rico interiormente, ele
pode sentir mais alegria
e dar mais alegria --
que é a razão
pela qual vivemos."


Adriana Cruz